sexta-feira, abril 29, 2011

A Festa mais Famosa de Todos os Tempos do Cinema :

Nenhuma festa caseira foi tão arrebatadora quanto a oferecida por Holly Golightly, a deliciosa e delicada garota de programa vivida por Audrey Hepburn emBonequinha de Luxo.


A festa: caso único em que filmar deve ter sido ainda mais divertido do que assistir.

 O filme é uma pedra fundamental da comédia romântica , o seu diretor, Blake Edwards, era um gênio da comédia. E concentrou seu arsenal mais pesado para uma festa prevista no roteiro, mas sem maiores orientações. Edwards enxergou ali o ápice cômico do filme, e preparou a maior festa da história do cinema.
Como não havia nada específico no roteiro, o diretor convocou dezenas de atores -- não figurantes, mas atores de verdade, gente capaz de falar e fazer coisas engraçadas. Gente como Fay McKenzie, a mulher que aparece num relance rindo sozinha na frente do espelho -- para reaparecer um minuto mais tarde, desmanchando-se em lágrimas na frente do mesmo espelho. Gente como Kip King, um militante da stand-up comedy que teve sua cara conhecida como um dos capangas engraçados do Coringa, na série Batman, escalado para ser o rapaz que repõe as bebidas da festa -- e que acaba dançando no meio da galera, chupando o dedão de maneira bizarra.
Uma coreógrafa de musicais, Miriam Nelson, foi contratada para andar ao lado de Edwards pelo set, definindo quem anda pra que lado, onde instalar um casal se amassando pelos cantos e, claro, por onde e como desfilaria Audrey Hepburn pela festa.


A filmagem da cena da festa virou uma festa gigante no estúdio da Paramount: durante sete dias, Edwards filmou um bando de gente se engalfinhando num apartamentinho, abastecendo-os com 140 galões de chá com ginger ale, 60 maços de cigarro e muitos sanduíches. Na última noite de filmagem, garrafas de champanhe francesa de verdade foram servidas aos atores, que ouviam Edwards berrando ao megafone: “lembrem-se: o segredo de atuar bêbado é tentar parecer sóbrio!”.

Audrey Hepburn observava a bagunça da pequena varanda de seu camarim, um trailer instalado a 1 metro do chão. A moçada a reverenciava e, eventualmente, ousava uma cantada (Kip King é um que confessa ter ficado na fila do gargarejo do trailer de Audrey, contando piadas e tentando arrancar sorrisos da musa). A coisa chegou ao nonsense de um diretor de segunda unidade -- geralmente um “operário” do cinema -- usar o megafone para chamar a maior estrela de Hollywood para a cena da seguinte maneira: “Audrey! Traga seu rabinho pra cá! Você está na próxima cena!”
Holly Golightly (Audrey Hepburn), depois de mais um dia de festa: ressaca e romance em Nova York.

Saldo final: toda a bagunça rendeu treze minutos de filme. Pouco? Nada disso. A cena tem um ritmo crescente e insano, servindo-se da tradição das comédias do cinema mudo americano (uma gag vai levando à outra), e é coalhada de situações bizarras que, miraculosamente, movem a história para a frente. É durante a festa que Paul, o par romântico de Holly, descobre que há algo muito errado e maluco na garota. E é ali que ela revela seu plano para tirar o pé da lama: casar com algum milionário bobalhão.
Mais que isso: enquanto finalizava a sequência da festa durante a montagem deBonequinha de Luxo, Blake Edwards teve uma outra grande ideia. Pensou em realizar um filme INTEIRO dentro de uma festa. O ensaio veio logo no ano seguinte, como pano de fundo para o roubo de um diamante em A Pantera Cor-de-Rosa. Mas a o resultado final veio sete anos mais tarde, com Peter Sellers quebrando tudo no antológico Um Convidado Bem Trapalhão.
Como anunciava uma das peças promocionais de Bonequinha de Luxo, essa era a festa em que você queria estar, com a companhia (Audrey Hepburn) que você sonhava ter. Curta um minutinho da grande balada de Blake Edwards, com trilha sonora original do grande Henry Mancini:


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